Depois de barulhos de relógios sortidos e rufares de
tambores temperados com notas de guitarra aqui e ali, a voz de David Gilmour “Ticking
away, the moments that make up a dull day” despertava Gustavsson,
emitida de seu aparelho de celular, totalmente modernoso demais, gente. Após
uma espreguiçada tão discreta quanto a de um elefante na savana africana, engoliu
um café rápido para ir ao trabalho. A rotina sistemática não podia ser de forma
alguma abalada. Pegou sua pasta e zarpou.
O transito apocalíptico da cidade tinha um sabor de
asfalto doce que tornava o trajeto para o trabalho ainda mais nauseabundo. Enquanto
ia dirigindo na velocidade de uma tartaruga grávida e sem uma pata, devido ao tráfego
tão agarrado quanto um carrapato no saco de um boi, Gustavsson ia fazendo sua
programação diária em sua detalhista mente. “Tenho que entregar o projeto
confidencial B finalizado, já que aqueles putos do Augusto e Ferdinando mais
conversam do que trabalham”.
Chegando próximo ao trabalho já foi abrindo a pasta para
pegar o crachá que lhe garantia acesso à IMMBS, a empresa de processamento de
dados onde trabalhava. Apesar de compreender os cuidados com a segurança de uma
empresa que trabalha com tecnologias secretas para o governo, convenhamos...um
rosto visto todos os dias entrando e saindo do prédio, ter que usar o crachá todo
dia para conseguir passar pelos sistemas de segurança? No local onde ele mais
gostava de ir, o Royal, ele entrava livremente, no lugar onde ele era obrigado
a ir para garantir sua subsistência ele tinha dificuldades para entrar. Olha a
ironia da vida aí, né gente?
“Cadê essa porcaria desse crachá? Só falta aqueles putos
o terem pego para me fazer passar aperto, esses bastardos filhos de mula”. Nem
bem passado esse pensamento pela mente de Gustavsson havia, e a última esquina
antes da empresa se dobrou perante seu modesto carro.
Uma confusão caótica de luzes piscando, sons de sirenes e
de pessoas caminhando para lá e para cá. Policiais na porta do prédio e alguns entrando
e saindo do gelado gigante cinza que crescia no campo de visão. Quando
Gustavsson passou a mão no celular para ligar para a empresa ele já estava
tocando! Pelo identificador de chamada não foi visto o número brilhar no visor.
Só faltava ser algum vendedor chato. Ia manda ele tomar em lugares que a
biologia nem sabia existir.
- Alô, Gustavsson
falando.
- Gustavsson! É o
Ferdinando.
- Ferdinando, seu
filho de puta com vendedor de Barsa...vocês pegaram meu crONDE VOCÊ ESTÁ,
GUSTAVSSON? Interrompeu Ferdinando deixando tenso seu interlocutor.
- Estou chegando
na empresa, mas tá uma zona aí!
- Dê meia volta
agora. Estou ligando meio que escondido para não me comprometer, mas sua
situação não está nada boa. Corra para o Royal e fique lá. Assim que der te
encontro lá. Meu Deus...o que você fez, meu amigo???
Antes que Gustavsson pudesse responder a ligação foi
abruptamente desligada. Atônito, beirando o desespero, retornou o carro com a sensação
vívida que tinha sido visto e ia ser seguido. Uma sensação claustrofóbica de pânico
o fez acelerar para longe daquele sentimento.
Sem saber o que fazer, fez a única coisa que lhe passou
na cabeça como sendo segura, foi para o Royal com a pergunta de Ferdinando cravada em
sua cabeça “O que você fez, meu amigo!!” O QUE EU FIZ?
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