sábado, 19 de abril de 2014

A Saga de Gustavsson - Capítulo II

Depois de barulhos de relógios sortidos e rufares de tambores temperados com notas de guitarra aqui e ali, a voz de David Gilmour “Ticking away, the moments that make up a dull day” despertava Gustavsson, emitida de seu aparelho de celular, totalmente modernoso demais, gente. Após uma espreguiçada tão discreta quanto a de um elefante na savana africana, engoliu um café rápido para ir ao trabalho. A rotina sistemática não podia ser de forma alguma abalada. Pegou sua pasta e zarpou.

O transito apocalíptico da cidade tinha um sabor de asfalto doce que tornava o trajeto para o trabalho ainda mais nauseabundo. Enquanto ia dirigindo na velocidade de uma tartaruga grávida e sem uma pata, devido ao tráfego tão agarrado quanto um carrapato no saco de um boi, Gustavsson ia fazendo sua programação diária em sua detalhista mente. “Tenho que entregar o projeto confidencial B finalizado, já que aqueles putos do Augusto e Ferdinando mais conversam do que trabalham”.

Chegando próximo ao trabalho já foi abrindo a pasta para pegar o crachá que lhe garantia acesso à IMMBS, a empresa de processamento de dados onde trabalhava. Apesar de compreender os cuidados com a segurança de uma empresa que trabalha com tecnologias secretas para o governo, convenhamos...um rosto visto todos os dias entrando e saindo do prédio, ter que usar o crachá todo dia para conseguir passar pelos sistemas de segurança? No local onde ele mais gostava de ir, o Royal, ele entrava livremente, no lugar onde ele era obrigado a ir para garantir sua subsistência ele tinha dificuldades para entrar. Olha a ironia da vida aí, né gente?

“Cadê essa porcaria desse crachá? Só falta aqueles putos o terem pego para me fazer passar aperto, esses bastardos filhos de mula”. Nem bem passado esse pensamento pela mente de Gustavsson havia, e a última esquina antes da empresa se dobrou perante seu modesto carro.

Uma confusão caótica de luzes piscando, sons de sirenes e de pessoas caminhando para lá e para cá. Policiais na porta do prédio e alguns entrando e saindo do gelado gigante cinza que crescia no campo de visão. Quando Gustavsson passou a mão no celular para ligar para a empresa ele já estava tocando! Pelo identificador de chamada não foi visto o número brilhar no visor. Só faltava ser algum vendedor chato. Ia manda ele tomar em lugares que a biologia nem sabia existir.

 - Alô, Gustavsson falando.

 - Gustavsson! É o Ferdinando.

 - Ferdinando, seu filho de puta com vendedor de Barsa...vocês pegaram meu crONDE VOCÊ ESTÁ, GUSTAVSSON? Interrompeu Ferdinando deixando tenso seu interlocutor.

 - Estou chegando na empresa, mas tá uma zona aí!

 - Dê meia volta agora. Estou ligando meio que escondido para não me comprometer, mas sua situação não está nada boa. Corra para o Royal e fique lá. Assim que der te encontro lá. Meu Deus...o que você fez, meu amigo???

Antes que Gustavsson pudesse responder a ligação foi abruptamente desligada. Atônito, beirando o desespero, retornou o carro com a sensação vívida que tinha sido visto e ia ser seguido. Uma sensação claustrofóbica de pânico o fez acelerar para longe daquele sentimento.


Sem saber o que fazer, fez a única coisa que lhe passou na cabeça como sendo segura, foi para o Royal com a pergunta de Ferdinando cravada em sua cabeça “O que você fez, meu amigo!!” O QUE EU FIZ?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será respondido aqui mesmo no blog pelo nosso Serviço de Atendimento ao Comentador de Ogroland (SACO)

Quem sou eu

Minha foto
Leia o Blog www.ogroland.blogspot.com.