Essa dor de cabeça levava nosso ogro medicinal, um homem pacato, zeloso pai de família e afável esposo, às raias da loucura. A sensação era de estar com a caixa craniana dentro de um torno, o que era potencializado pelas reprimendas clássicas de Ogrolesa Maria, esposa de Ogrolino.
Em toda peripécia alcóolica de Ogrolino, Ogrolesa gritava pela manhã: “Levanta bebum safado”, “bebe mais miserento”, “tá achando que seu fígado é de adamantium?”; e o timbre levemente agudo da voz da carinhosa provocava fincadas profundas no cérebro de Ogrolino.
Tal situação não podia perdurar por muito tempo e o renomado Ogrolino empenhou todas suas forças mentais e espirituais para desenvolver um remédio que aliviasse suas dores de cabeça, provocadas por homéricas bebedeiras.
Depois de anos de pesquisa sua busca teve sucesso. Ogrolino achou a pílula que exterminava sua dor! Quase a mesma coisa que Percival achar o Cálice Sagrado!
Para batizar a abençoada cápsula de via oral, Ogrolino fez uma meiga homenagem à sua esposa. Sempre que ele estava bebendo, quando começava a ficar bem bebim, bem ruinzim mesmo, Ogrolesa avisava:
- Ogrolino! Para, cê tá mal!
Para não ficar igualzinho, para ce ta mal, Ogrolino trocou uma letrinha e soltou: Paracetamol!
E assim surgiu o famoso analgésico, Paracetamol.
Ilustrações Saturnino Rodrigues